Subtil forma de sentir...liberdade!
Liberdade
Nos meus cadernos de escola
Sobre a carteira nas árvores
Sobre a neve sobre a areia
Grifo teu nome
Em toda página lida
Em toda página em branco
Sem papel na pedra ou cinza
Grifo teu nome
Sobre as gravuras douradas
Sobre as armas dos guerreiros
Sobre a coroa dos reis
Grifo teu nome
Na floresta e no deserto
Sobre os ninhos sobre as gestas
Nos ecos da minha infãncia
Grifo teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco das jornadas
Nas estações de noivado
Grifo teu nome
Nos fiapos de azul-celeste
No tanque solar bolor
No lago lua vibrante
Grifo teu nome
Nos campos nos horizontes
Nas asas dos passarinhos
Sobre os moinhos de sombras
Grifo teu nome
Em cada sopro de aurora
Sobre o mar sobre os navios
Na insensatez das montanhas
Grifo teu nome
Nas nuvens soltas revoltas
Na tormenta transpirada
Na chuva insistente e boba
Grifo teu nome
Sobre as formas cintilantes
Nas campânulas de cores
Por sobre a verdade física
Grifo teu nome
Sobre as veredas despertas
Nos caminhos desdobrados
Sobre as praças transbordantes
Grifo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Nas casas cheias de gente
Grifo teu nome
No fruto cortado em dois
O do espelho e o do meu quarto
Na concha sem mim depois
Grifo teu nome
No meu cão terno e guloso
Mas sempre de orelha em pé
E patas destrambelhadas
Grifo teu nome
No trampolim da minha porta
Nos objetos familiares
Nas línguas do lume bento
Grifo teu nome
Em toda carne acordada
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que me afaga
Grifo teu nome
Na vidraça das surpresas
Sobre os lábios expectantes
Muito acima do silêncio
Grifo teu nome
Nos refúgios descobertos
Nos maus faróis desmontados
Nas paredes do meu tédio
Grifo teu nome
Sobre a ausência do desejo
Sobre a solidão desnuda
Nos descaminhos da morte
Grifo teu nome
No retorno da saúde
No risco que se correu
Na esperança sem lembrança
Grifo teu nome
E pelo poder de um nome
Começo a viver de fato
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
Paul Éluard
Professora Cândida Afonso - História
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