(25 anos depois...)
José Manuel Cerqueira
Afonso dos Santos (ZECA AFONSO) nasceu em Aveiro, a 2 de Agosto de
1929, filho dum magistrado e duma professora primária. A infância reparte-se
entre Aveiro, Angola, Moçambique, Belmonte e Coimbra, devido às sucessivas
deslocações profissionais do pai.
Em Coimbra,
estudante do Liceu D. João III, conhece o guitarrista António Portugal e começa
a interessar-se pela música. Em fins da década de 40, já aluno de Ciências
Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Coimbra, destaca-se, à
semelhança do irmão, como cantor de fados. Conhece o mestre guitarrista Flávio
Rodrigues e a cantadeira popular Cristina Matos.
Casa pela
primeira vez em 1950, com Maria Amália, de quem tem dois filhos, José Manuel e
Helena. As dificuldades económicas levam-no a trabalhar como revisor no «Diário
de Coimbra». Em 1953 grava os primeiros discos (de 78 rpm), com «Fado das
Águias» e outras canções, o que voltou a acontecer em 1956 (já em discos de 45
rpm). Em 1958 viaja com a Tuna Académica até Angola, numa viagem que repetirá,
dois anos depois, com o Orfeon Académico. Em 1960 grava a «Balada de Outono» e,
depois, de modo irregular vai gravando alguns discos de pequeno formato (EP),
até 1964, ano em que, já casado com Zélia, parte para Moçambique. Os filhos de
ambos, Joana e Pedro, nascerão nos anos seguintes.
Pelo caminho
deixa o serviço militar cumprido em Mafra (entre 1953 e 1955), onde se
distinguiu pela sua permanente distração e incapacidade para dar ordens e uma
experiência de professor do ensino secundário iniciada em 1956 e que o levou a
diversos liceus e colégios de Mangualde, Aljustrel, Lagos, Faro e
Alcobaça.
É ainda como
mestre-escola que regressa a África em 1964, experiência que se revelará
fundamental na sua formação política. Na Beira, colabora com o Teatro
Experimental e escreve a música para a peça «E Excepção e a Regra», de Brecht.
Volta a Portugal em 1967, ano em que é pela primeira vez editado em «long
playing» (33 rpm) com «Baladas e Canções», historicamente o seu primeiro álbum,
que recolhe gravações anteriores à sua partida para Moçambique e editadas em
vários EPs.
Expulso do
ensino por razões políticas, dedica-se mais assiduamente à música e inicia um
período de gravações regulares com «Cantares do Andarilho» (1968). No ano
seguinte grava «Contos Velhos Rumos Novos» e, em 1970, publica «Traz outro Amigo
Também» e visita Cuba. No ano seguinte edita «Cantigas do Maio», e tudo passa a
ser como era na música portuguesa. Aliás, 71 é um ano de luxo para a música
portuguesa: Sérgio Godinho grava «Os Sobreviventes», Adriano Correia de Oliveira
edita «Gente de Aqui e de Agora», José Mário Branco publica «Mudam-se os Tempos
Mudam-se as Vontades», Luís Cília vê sair em França o terceiro álbum da série «A
Poesia Portuguesa de Hoje e de Sempre». Ainda nesse ano recebe o terceiro prémio
consecutivo da Casa da Imprensa pelo melhor disco.
Em 1972 canta
pela primeira vez na Galiza e participa no Festival Internacional da Canção do
Rio de Janeiro, onde apresenta o tema «A Morte Saiu à Rua», dedicado ao pintor
José Dias Coelho, assassinado pela Pide. Edita «Eu Vou Ser Como a
Toupeira».
Participa
activamente no III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, em Março de
1973 (onde estreia em público «O Que Faz Falta») e envolve-se na acção politica
com grupos de vários sectores da Esquerda, desde o PCP à LUAR. Publica «Venham
mais Cinco» (73).
Em 29 de Março
de 1974 participa no Encontro da Canção, no Coliseu dos Recreios, onde a censura
não lhe permite cantar mais do que duas canções: «Milho Verde» e «Grândola Vila
Morena». Menos de um mês depois, a 25 de Abril, esta era a senha do Movimento
das Forças Armadas para o início da que ficaria para a história com o nome único
de Revolução dos Cravos.
Ainda em 1974
faz sair «Coro dos Tribunais», mas só voltará a publicar em 1976 ( «Com As
Minhas Tamanquinhas»). Nesses meses («essa coisa magnifica que foi o PREC»),
percorre o país de ponta a ponta, num sem fim de «sessões», «acções de
dinamização», «campanhas de alfabetização». Grava um disco em Itália de apoio à
luta do jornal «República» e outro para a LUAR («Viva o Poder Popular» / «Foi Na
Cidade do Sado»), ganha o Prémio Internacional de Folklore da Academia
Fonográfica alemã (1976). Apoia as candidaturas à Presidência da República de
Otelo Saraiva de Carvalho (1976 e 1980) e Maria de Lurdes Pintasilgo (1985).
Grava «Enquanto Há Força» (77), «Fura Fura» (79), «Baladas de Coimbra e Outras
Canções» (81).
Em 1982 visita
Moçambique e é recebido pelo Presidente Samora Machel com honras semelhantes às
de um chefe de Estado. É-lhe diagnosticada uma doença incurável (esclerose
lateral amiotrópica) que se caracteriza pela destruição lenta e progressiva do
tecido muscular. Viaja pela Roménia, Inglaterra e Estados Unidos, em busca de
uma solução.
Em 1983 realiza
os últimos espectáculos, nos coliseus de Lisboa e Porto. Publica o disco «Ao
Vivo no Coliseu» e um belíssimo LP de originais, «Como Se Fora Seu Filho». Um
ano depois, recebe dos doze participantes no Concerto pela Paz e Não Intervenção
na América Central, realizado em Manágua, uma das mais significativas
homenagens: uma mensagem assinada, entre outros, por Pete Seeger, Chico Buarque,
Carlos Mejía Godoy, Sílvio Rodriguez, Daniel Viglietti, Isabel Parra e Amparo
Ochoa. Nesse mesmo ano foi editado o livro "As Voltas de um Andarilho", de
Viriato Teles, uma extensa reportagem sobre a vida e a obra de Zeca. Em 1984,
José António Salvador publica "Livra-te do Medo", um outro trabalho biográfico
sobre o poeta-cantor - reeditado em 1994 em nova versão, mais ilustrada, com o
título "José Afonso - O Rosto da Utopia".
Em 1985 publica
o derradeiro disco, «Galinhas do Mato», onde já só dá voz a dois dos temas. Os
restantes têm interpretações de Janita Salomé, Helena Vieira, Luís Represas, Né
Ladeiras e José Mário Branco. Morre, no hospital de Setúbal, na madrugada de 23
de Fevereiro de 1987.
Fonte: Aveiro Cidade
Cândida Afonso - História
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